sábado, 21 de abril de 2012
A primeira vez
Vídeo-Mito da Caverna
A primeira vez a gente nunca esquece..Passei dias de terror com a perspectiva de apresentar meu primeiro trabalho.A ideia era usar pinturas e vídeos para contar uma história.Escolhi o Mito da Caverna para comparar a época medieval e o Renascimento,no que diz respeito à construção do conhecimento.Ignoremos o fato de que a racionalidade levou ao nazismo e blablablá.o fato é que pensar por si,sem a mediação da igreja,foi o ponto de partida para uma série de teorias sobre a sociedade e o homem.Essa história,da humanidade presa em uma caverna,sem ver o mundo e,de repente,um prisioneiro liberto,conhecendo a realidade,sempre me apaixonou..O vídeo ficou simples,mas a sensação de vê-lo sendo exibido numa sala escura é indescritivel,magica,viciante...
sábado, 7 de abril de 2012
Crítica:Heleno em campo
Antes de começar aviso que este não é nem pretende ser um texto sobre futebol. Se fosse, eu estaria enganando a todos aqueles que vierem a ler essas palavras um dia e a mim mesma. Não, esse texto se refere à paixão, combustível essencial do filme Heleno, tema sobre o qual me debruço recém saída da sala de exibição. De fato, antes de assistir sua história eu não tinha a menor ideia de quem havia sido Heleno de Freitas, a não ser as poucas informações que a publicidade do filme divulgara: jogador, boêmio e temperamental eram as características que chegaram até mim e que de fato correspondiam ao personagem principal.
Sim, Heleno fora um instável craque do Botafogo da década de 40, viciado em mulheres e éter, intenso e controverso até o final de sua vida. Mas o filme não somente relata sua história,dramática como devem ser as vidas de todos aqueles que as vivem pelo viés da paixão.Em vez disso delineia os traços de um personagem que penetra por nossas retinas e se cola ao imaginário do público de forma tal que é impossível passar indiferente a ele.Logo na primeira cena,o espectador se depara com um Rodrigo Santoro extremamente envelhecido em um big close(o ator emagreceu 12 quilos para o papel),tão preso ao seu tempo passado como às rodas de sua cadeira,embrulhado em um velho roupão e chinelos com meias,mãos magras e enegrecidas,rasgando seus recortes de jornal.
É um soco no estômago para aqueles(as)que chegaram ao cinema esperando encontrar Rodrigo Santoro em sua mais bela forma física.Ali não há um galã,há um ator em pleno exercício de entrega com seu personagem.Naquele momento Heleno expulsa Rodrigo da cena e toma todos os espaços.O olhar do ex-jogador se perde e o público compreende que a narrativa vai começar,desfiando o rosário de suas desventuras.É preciso ressaltar o acerto na escolha de viver Heleno em preto e branco,trazendo de volta o glamour dos anos dourados.A câmera se move em direção a um campo de futebol,onde o jogador,em meio a uma torrencial chuva,dribla companheiros e adversários na busca de um gol.A fotografia é primorosa e é possível acompanhar cada detalhe da movimentação dos jogadores com impecáveis tomadas.Ao deparar-se com um Heleno jovem,belo e incontrolável é pesaroso voltar ao personagem do presente na narrativa,magro e estático e é um susto constatar que se trata do mesmo ator.
É importante ressaltar que a escolha de realizar grande parte das filmagens em close, sugere a necessidade de mergulhar no universo do jogador, registrar seus sentimentos mais profundos, sofrer como ele e vibrar com seus rompantes, quase como se, com a aproximação da câmera, o diretor sugerisse que nos colocássemos, público, na linha de frente do campo, junto com Heleno. É impossível não tomar partido e identificar-se com o ser humano que berra,sofre,joga,cai e se levanta,delineado pela luz do projetor.
A história avança e o jogador caminha em direção a sua epopeia, encontrando as mulheres de sua vida e as dificuldades dentro do Botafogo, muito em parte causadas por sua indisciplina e irritabilidade. Mas quando Heleno avança,é impossível não se encantar com seus gestos e entender a magia que cerca o personagem,jogando bola na praia de Copacabana .Na trama,o jogador vai fazer par romântico com uma belíssima Aline Morais(Silvia),mas arrebatar muitas outras saias (e inimigos também)ao longo de todo o filme.Entre um encontro e um jogo,o drama do vício em éter e da sífilis perpassam a história, assim como a traição de Silvia e a decadência sucessiva de Heleno, migrando de clube em clube até o completo ostracismo.Em todo o tempo do filme o contraste entre o personagem jovem e o Heleno do fim da vida,confinado a um sanatório para doentes mentais, causa choque,como se a intenção do diretor fosse mesmo conflitar passado e presente,como forma de delinear o caráter breve da vida do jogador.Seus destemperos,sua paixão desmedida pelo Botafogo e seus tropeços constroem um personagem sedutor,mesmo aos não amantes do futebol.
O que se vê na tela não é somente um jogador, magicamente retratado pelas lentes fantásticas de Walter Carvalho, mas um ser humano nitidamente factível de existir,construído com base unicamente na paixão.É impossível também deixar de comparar a história de Heleno com as notícias esportivas dos dias atuais,comparando-o os mega jogadores apoiados somente pelo marketing de seus times .Heleno não faz concessões,não aceita regras,impõe seus gestos e sofre as conseqüências de suas ações.É intenso e desmedido e leva essas características até seus últimos momentos,esquecido na clínica de repouso,sendo cuidado por um enfermeiro (Maurício Tizumba )que muitas vezes rouba a cena,em tiradas hilárias.São dele as horas mais fraternas do personagem, em seus últimos momentos.
Heleno não é, enfim, um filme sobre futebol,o que pode incomodar muitos amantes do Botafogo.É um filme sobre um jogador e seus dramas pessoais,magistralmente retratados pela perfeita fotografia de Walter Carvalho e atuação visceral (e surpreendente) de Rodrigo Santoro.
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