quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Da imprevisibilidade
No cinema, como na vida , a linguagem existe além da mera percepção da retina, onde palavras e conceitos escondem o real significado da mensagem, quase sempre reflexo do inesperado.
Assim o sentido de uma obra cinematográfica não está em seus diálogos, planos de cena e iluminação, nem tão pouco na ótica do diretor. Por mais se esforce, seu discurso visual habita o plano do objetivo, onde as palavras formadas por cada gesto vão encontrar sentido e significação.
Na obra Melinda e Melinda, do diretor W.Allen, os olhos vão captar uma historia comum sobre encontros e desencontros de casais no inicio da maturidade, pressionados sob a obrigatoriedade de fazerem diferença no ciclo social onde convivem e a constatação de que o tempo caminha na contramão das certezas e tudo que se pode fazer é prosseguir. As personagens e dramas sucedem-se na tela em seus discursos previsíveis, sem que exista de fato surpresa ou tragédia no que vivenciam. É apenas vida do outro, em estado de contemplação.
No entanto é o instante entre palavras que guarda o sentido da mensagem, não na construção de personalidades factíveis, mas no lexo da subjetividade das relações dos personagens. O cerne do discurso da historia que não consta da sinopse do filme vai falar de contato,de comunicação,do momento em que se percebe o outro e do caráter irrevogável desse evento.Nada mais é preciso do que conectar-se à mesma freqüência de alguém para ser capaz de decodificar a mensagem subjetiva escrita nas entrelinhas das máscaras e convenções, salvas as limitações da moral e da ética de cada um.
Perceber o outro é antes de tudo, mergulhar no escuro, num manancial infinito de signos distintos, imprevistos, onde a lógica se abstém de julgamento e os sentidos comuns não compõem interpretação verossímil. É preciso estar distraído para compreender e é nesse viés em que o filme narra sua história. Homens e mulheres atraem-se mutuamente, aproximam-se , relacionam-se e afastam-se sem que se possa conter ou estabelecer parâmetro por mais tentem.É antes o tempo do imprevisível que traça a rota dos acontecimentos.
Dar o primeiro passo é arriscar-se ao desconhecido, no terreno da dor ou do prazer. Melinda, a personagem titulo,conhece os dois lados, caminha na linha tênue entre o sim e o não e experimenta a angustia da escolha.Se seu roteiro será comedia ou drama não depende somente dos narradores em perspectiva,confortavelmente sentados num pub filosófico a dissertar sobre lugares comuns ,mas do incerto apelo do imprevisível em sua vida,convidando-a a rir ou chorar.Sentir é inconsciente, agir é um ato de coragem alem da ficção,no terreno do talvez.
texto original do blog www.magiaerazao.blogspot.com
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