Renoir e a escrita da luz
Desde que tomei conhecimento da estreia de um filme sobre Renoir, me impus como meta fazer o possível para assistir..Afinal,há menos de dois anos tive a oportunidade de me aproximar dos quadros desse pintor e a explosão de cores me encantou profundamente...Sei que há aqueles que menosprezam o impressionismo como arte menor frente a ousadia cubista ou mesmo o suprematismo dos russos,mas ainda que reconheca a importância desses movimentos, não posso deixar de me encantar com o conceito de passagem do tempo que as pinceladas dos impressionistas trazem até nossos olhos quando vislumbramos seus quadros.O que importa,pelo menos para mim,não são a representações,mas as variações de cor e luz que penetram em nossa retina, provocando um contato com uma perspectiva poética do mundo
E foi nesse estado de espírito que entrei no Cine Santa para assistir à versão romanceada da historia sobre o pintor francês.Na verdade, o filme fala dos últimos anos da vida de Renoir,quando já idoso,recolhia-se na paradisíaca região de Cote D´azur..So esse pequeno detalhe já me fez entender a magia de suas telas.na verdade,Renoir pintava as nuances de cor e luz que cercavam seu cotidiano,não é por acaso que não lhe faltava inspiração.Mas o filme vai alem.Em uma narrativa leve e poética, mostra as relações do pintor com suas mulheres,cujas formas ele desnudava em suas telas e com a realidade que via em seus olhos já cansados.
Há,na obra,um cuidado especial com a fotografia,como não podia deixar de ser e com os aspecto poético da mis-en-cene dos atores.Independente do tom da cena mostrada,é impossível não enxergar quadros imaginários em cada plano mostrado no filme.A camera com certeza ajuda nesse quesito,movendo-se entre corpos e paisagens como a registrar lentamente cada composição do artista.
Alem disso,há a personagem Andrée (Christa Theret)de estética irrepreensivelmente próxima aos quadros de Renoir e empatia imediata com o público..E sua proximidade é tanta,que a nudez frontal óbvia que enverga não causa nenhuma estranheza..Afinal não é a ela que observamos,mas a composição da própria obra do pintor,expressa no corpo que exibe...E as demais mulheres,todas, apesar dos tons suaves das telas do artista,dominam a narrativa em quase todo o tempo,entre conflitos e breves momentos de calmaria.São elas que compõem as cenas que serão materializadas na tela do artista e há um evidente mérito da direção de fotografia em registrar nuances de pele e ambiente de forma fugidia,como são de fato as pinturas impressionistas...
Cabe somente uma ressalva:o final do filme não obedece a um ritmo próprio de toda a obra, sendo interrompido no clímax da tensão e substituído por uma informação posterior dada em cartela,onde se sugere que houve um reencontro dos personagens e uma posterior separação. Consegui pensar uma dezena de formas mais elegantes de se terminar o filme,inclusive pelo uso daquilo que recentemente aprendi como elipse,o uso da camera em lacunas de tempo e espaço que confere sofisticação à narrativa.Me parece que o motivo para esse lapso não pode ter sido mais medíocre do que custos de produção,o que me impediram de sair totalmente satisfeita do cinema. Renoir não merecia.
"...as pinturas impressionistas parecem estar em movimento, assim como seu texto parece saltar de onde estiver para a mente de quem o lê com uma profundidade e perspectivas impressionantes..."
ResponderExcluirCada dia mais maravilhosa.
Te amo!
P.C.