segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Crítica do Filme:Dama de Ferro


Há um problema em escolher atores excepcionais em roteiros maravilhosos para personagens controversos da história. Corremos o risco de nos apaixonar pela persona de ditadores e assassinos contumazes antes mesmo de nos lembrarmos quem são. Há porem um lado mais assustador na empatia. O olhar da câmera, ao jogar luzes por sobre uma carapaça de sombras, revela a humanidade que há em todos nós, bandidos ou mocinhos, revirando nossas entranhas na perspectiva de encontrar em nosso ser o ingrediente maldito da monstruosidade e da intolerância. O que filmes como A queda, que retrata os últimos dias de Adolf Hitler, Into the Storm ,de Churchill e Henrique VIII, por exemplo, mostram é a nuance palpável de personalidades que escreveram a ferro, fogo e principalmente sangue seu nome na história. E se em Tempos de Tormenta (Into the Storm, 2009.Biografia de Churchil, primeiro ministro britânico durante a segunda guerra) a imagem do doce velhinho sentado em sua sala constituindo por si só a resistência que ergueu os aliados contra a égide nazista contrasta com seus ideais de limpeza étnica, o que dizer de Adolf Hitler sendo retratado em um bunker tão simpaticamente em suas relações com secretarias e demais subordinados ao ponto de ser duvidoso?Afinal,esta ali na tela o homem que forjou a solução final em seis milhões de judeus. Da mesma forma em Henrique VIII, a empatia desmedida do monarca britânico chega quase a justificar a execução sumária de um soldado, argumento fácil de impingir após longos minutos construindo uma personagem sedutora e corajosa para o rei inglês. Em 2012 o milagre da transformação atende pelo nome de Margareth Thatcher, vivenciada de forma brilhante por Meryl Streep. Em dama do ferro, a trajetória da primeira estadista inglesa é esmiuçada em detalhes, costurando dores e afetos em uma narrativa rica, desde sua juventude no partido conservador, passando pela construção do mito Thatcher, até o final da vida, encerrada em uma casa cheia de lembranças. Streep tenta ser durona como a ministra britânica, mas passa docilidade demais pelos olhos inquietos para que lembremos que sua personagem causou a morte de milhares de soldados argentinos e ingleses durante os conflitos pela posse das Falkland ou que a pesada carga de taxas causaram dezenas de protestos populares Inglaterra afora. Mas a atriz resiste,move-se mais rápido,tempera o olhar arrogante com silêncios contundentes e gestos mais amplos e convence muitos da seriedade de sua personificação.Entretanto é no contraste entre a hard lady e a idosa que mantém um diálogo com o marido morto que a mulher de ferro se humaniza.Já não se enxerga mais a tênue película que protege a atriz e a personagem.pronto,ela fez de novo,entrou com Meryl e saiu como Thatcher,sem que soubéssemos onde começou uma e onde terminou a outra.



E para quem acompanhou na história todos os desmandos de Margareth Thatcher,a casa onde no filme a personagem vive seus últimos dias carrega todos os fantasmas de uma existência(Na vida real consta que sua filha declarara não ser mais a mãe capaz de falar em público).Dos soldados da campanha das Falkland,guerra indecente travada com a argentina, aos milhares de desempregados frente à grave recessão vivida pela Inglaterra na década de 70,estão todos lá,dividindo espaço com o maravilhoso personagem que é o marido de Thatcher.Dennis,o marido da mulher de ferro,é a nota sensível e tresloucada da grande dama,suavizando suas crises de consciência,apoiando suas decisões e protegendo-a de sua própria força.E quando ela já não encontra mais adversários ou apoiadores ao seu lado,é a voz do marido que continua protegendo-a da solidão.Assim como no Brasil Getulio Vargas saiu da vida para entrar na história,no filme Dama de Ferro Thatcher abandona sua velhice para se entregar às sua próprias lembranças que compõem não só a sua história ,mas da Grã-bretanha moderna.Um filme belo e imperdível.
Na mídia,o filme levantou críticas,entre os dois lados da moeda e por motivos distintos:
"Se na Grã-Bretanha as críticas poderiam conter um mal disfarçado orgulho nacional ferido, na Argentina elas adquiriram um tempero político muitas vezes explícito..(O Globo Digital.Caderno de cultura.17/02/2012)

Matéria do Globo


Pra SABER MAIS:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Thatcher
http://www.tosabendo.com/conteudo/noticia-ver.asp?id=219933


Videos:
Meryl Streep GANHA O BAFTA, OSCAR LONDRINO







Trecho de A Queda:







Trechos de Into the Storm:


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