segunda-feira, 26 de março de 2012

Diário de Bordo - Movimentos de câmera e montagem




Muito tempo sem escrever por aqui,pois as atividades acadêmicas estão se multiplicando e as informações, idem.Ainda falamos do cinema mudo de Edwin Porter e D.W. Griffith e da diferença da narrativa clássica, linear,dos seus filmes, para as vanguardas estéticas do início do século XX.Nesse segundo expoente,o da narrativa não linear,tanto a montagem como a história percorrem caminhos distintos.Não é somente a tarefa de dizer que ocupa um papel de importância,mas como dizer.Se em Griffith, cineasta americano, as histórias tem início, meio e fim, em Robert Wiene ,diretor do expressionismo alemão, a narrativa busca ser onírica, surreal,fantasiosa.Em Porter já se percebia a necessidade de constituir o cinema como linguagem,através dos movimentos da câmera e dos planos seqüenciais.Mas foi Griffith o grande arquiteto da sintaxe fílmica, criando seqüências panorâmicas , uma novidade para a época e diferentes planos num mesmo quadro, ou seja, a ação acontecia em camadas, sendo a principal retratada mais à frente da imagem e tendo ao fundo outro fragmento da ação principal que, ocasionalmente ocuparia a narrativa quando assim fosse necessário.
Exemplo disso é o filme Lírio Partido, de Griffith (1919) Na obra, uma jovem, maltratada pelo pai, se apaixona por um chinês exilado na Amhttp://www.blogger.com/img/blank.giferica. A grande sacada do filme,para alem do advento do flashback na composição da narrativa,é enxugar os excessos da interpretação dos atores,buscando concentrar seus personagens na expressão de seus rostos.É impossível não reconhecer características de Charles Chaplin na personagem da garota pobre,de olhar triste,contemplando o mundo que a oprime.Da fato,descobri recentemente que Griffith e Chaplin trabalharam juntos ,fundando a United Artists.

(cena do filme Lírio Partido,de D. W. Griffith .1919)

Nas aulas estamos ainda nos primórdios do cinema e é maravilhoso pensar que a linha do tempo no cinema se fragmenta em muitas outras,seja no cinema russo de Eisenstein, criador da montagem intelectual,seja no expressionismo alemão que, através de cenários carregados de ambigüidades e jogos de sombras, buscavam retratar a insegurança e as incertezas da sociedade alemã.

(cena do filme Gabinete do Dr.Caligari,de Robert Wiene)

Saindo um pouco da história, fomos (eu fui, ao menos} apresentada à sintaxe cinematográfica e aos movimentos de câmera, como forma de contar uma história. Então entendi que um plano geral é como um prólogo num filme e que a forma de posicionar a câmera de cima para baixo, o famoso plongeè,é um modo de dizer ao público,seja pelo uso já consumado em filmes há anos, que a ação que se busca retratar, guarda uma carga de suspense e crime. é a clássica cena da mesa de pôquer, retratada de cima.


Do mesmo modo, o contra-plongeè, ou seja, a câmera de baixo para cima é um modo de conferir autoridade e mesmo um ar heróico ao personagem. Através dele, vemos bandidos converterem-se em mocinhos e meninos franzinos virarem o homem aranha, no olhar que constrói o herói.


Para alem dos simples movimentos, como o Dolly, que é o deslocamento para frente e para a trás da câmera no eixo e que, associado ao zoom, pode dar a ilusão de um cenário que cresce ou diminui em relação ao personagem, como mágica.

Dolly
Mas, de todos, a mais bela movimentação da câmera reside no plano seqüência, técnica pela qual eu era apaixonada, mas não fazia ideia do conceito, que é filmar toda a ação sem cortes. Assim foi feito em Festim Diabólico,de A.Hihttp://www.blogger.com/img/blank.giftchcok, nessa seqüência:

(Trecho do Filme Festim Diabólico,de Alfred Hitchcock.1948)
Mais do que narrar uma história com diálogos, narra-se com movimentos, planos e montagens, principalmente a montagem. Segundo Stanley Kubrick, esse é o fundamento do filme.Lendo um texto outro dia,de Luis Carlos Merten,descobri que foi através da observação dos ideogramas japoneses que Eisenstein,por exemplo, descobriu o que seria sua forma de organizar a montagem fílmica.Observando que o conceito de lagrima é a junção dos ideogramas olho e água, o cineasta compreendeu que a justa posição de imagens num filme sempre vai originar um terceiro conceito que é a síntese do que se quer comunicar.De fato,o filme não é somente a fragmentação de uma história em planos, mas a construção de diferentes conceitos e ideias pela sucessão de imagens magistralmente justapostas pela direção e equipe de montagem.Para alem de narrar,o cinema propõe caminhos, escolhas, sentidos, na tarefa de escrever entre a luz e a sombra.

2 comentários:

  1. Olá Tatiane.

    Sou seu mais novo seguidor.

    Seus textos são excelentes e sugiro que escre muito e sempre.

    Estarei sempre por aqui.

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    Um abração carioca, minha conterrânea!

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  2. Ola,Paulo!Seja bem vindo!Apareça sempre por aqui!Visitarei seu blog,com certeza!abraços e obrigada pela visita.

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